sábado, 21 de julho de 2007

Quero

Quero que todos os dias do ano,
todos os dias da vida,
de meia em meia hora,
de 5 em 5 minutos,
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte, como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas
que me amas
que me amas.
Do contrário
evapora-se a amação
pois ao dizer : Eu te amo
desmentes
apagas teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre,
isto cada vez mais.
Quero ser amado
por e em tua palavra
nem sei de outra maneira
a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira
de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor saltando da língua nacional,
amor feito som,
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente
sei que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.
Se não me disseres urgente
repetido
eu te amo amo amo,
verdade fulminante que acabas de [desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.]


Carlos Drummond de Andrade

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